
Foi caminhar sem rumo porque precisa espairecer. Era sempre a mesma coisa quando se afligia além da conta. E ela invariavelmente ficava tomada pela raiva quando alguém fazia bobagens no trabalho e colocava a culpa na chuva, no vento, nas nuvens no céu. Quando mais jovem, não aprendeu a aceitar cada um como cada um é, e agora essa falta de aprendizado pesava-lhe no ânimo. A bem da verdade, minava seu ânimo. A solução era sair para andarilhar sem ir a lugar algum porque não queria ter a obrigação de um destino certo; precisava do tempo que fosse, para organizar duas ou três ideias até a aflição passar. Só depois de andar muito até as panturrilhas reclamarem, é que voltava para o escritório, olhava um por um, tomava um café sem açúcar e recomeçava de onde tinha parado. Todos já conheciam essa rotina e nem se aproximavam, porque ninguém era louco de fazer isso. Não que fosse acontecer algo; na verdade, ela é que evitava os colegas, para não fuzilar um por um. Com isso era cuidadosa, não olhava nos olhos de alguém se estivesse desgostosa, sabia que o olhar podia ser uma arma perigosa. Por isso preferia andar, até gastar toda a raiva e poder olhar quem quer que fosse novamente. No outro dia era igual, depois igual, sempre igual. Como ninguém mudava nunca, previsíveis, resolveu comprar um par de tênis.
Danielle Arantes Giannini