Banco de personagens: Maria Ricota

Que efeito devastador teve aquele acontecimento da vida normal de uma moça tão jovem. Não era uma vida pacata, também não era tumultuada, era apenas uma rotina. Rotina cansativa, estressante; às vezes ela se descompensava e gritava com as paredes ou com pessoas mesmo; outras vezes meditava na mais pura calma por alguns minutos. Levava a vida de todos os dias sem revolta, com sonhos, projetos que nunca saíam do papel e coisas assim. Quando leu a longa mensagem no celular, foi tomada por um tremor nas mãos, falharam as pernas, parou de circular o sangue, o ar não entrava nos pulmões. Ernesto estava deixando Maria Ricota para aventurar-se com outra mulher. Bem mais rica. Bem mais cuidada. Bem menos atarefada. Bem mais perfumada. Avisou pelo celular mesmo. Nem voltou para pegar as peças de roupa e os livros. Nunca mais ela ouviria falar daquele homem abjeto. Tanto melhor. Maria Ricota abandonou a rotina já sem sentido, virou artista plástica, modelava cerâmica, tecia mantas coloridas, aprendeu a tocar piano e conheceu um amor virtual. Não sabia seu cheiro, mas ouvia a voz, via o corpo nu do tal homem, recebia mensagens de bom dia e boa noite, sabendo que jamais o encontraria, viviam em países distantes. Finalmente um relacionamento seguro. Falavam em outro idioma. Maria Ricota não imaginava o tanto que duraria esse amor.

 

Danielle A. Giannini