Palavra do dia: “CONFIANÇA”, um substantivo difícil

 É fácil, fácil perder a confiança em alguém ou algo. Conquistá-la é tarefa por vezes árdua, trabalhosa, demanda tempo e paciência, além de algumas decepções.  Confiança não é algo que se encontre aos borbotões, é antes uma predisposição para aceitar que o outro não vai lhe causar problemas, danos físicos ou emocionais, prejuízos de qualquer natureza. A melhor imagem que tenho da confiança é o próprio ser humano, quando ainda é bem pequenininho! Os bebês confiam incondicionalmente nas mães porque não saber desconfiar. Acostumam-se desde o período da gestação a confiar na alimentação que recebem, no aconchego e tal. Depois que nascem, deixam-se confiar nos braços das mamães, recebem-lhe o leite materno, roupas, banho, colo, afagos e outros mimos. Crescem e vão aprendendo a andar, falar e desconfiar. Opa, algo corrompe o ser humano durante sua vida e o priva da confiança. Deixa de confiar no amigo, na professora, no brinquedo que quebrou tão rápido … talvez deixe de ter confiança na própria mãe; aprende por meios variados que se tiver confiança nos políticos será enganado; se confiar no colega de trabalho será trapaceado, e por aí vai. Agora pergunto-me se a confiança é uma virtude, algo bom de se ter, do tipo que acalma a agente, ou se é bem ruim e perigoso, o que nos predisporia a esperar um golpe a qualquer momento. Então penso, penso e  concluo  que existe a confiança boa de sentir, como aquela do bebê que se vê seguro no colo da mãe, e a confiança perigosa, que vai acabar mal, como confiar em alguém que lhe dá um papel em branco para assinar. Ou um exemplo atualíssimo, como vou confiar em alguém que pede para eu preencher um cadastro com meu endereço eletrônico, com a garantia de que a informação será para uso próprio, e logo depois quilos de e-mails começam a chegam com spams e mais outras lorotas?! E percebo que a tarefa é mesmo dura. Temos que escolher em quem confiar! Fico torcendo para que os homens, políticos e não-político, se esforcem realmente para conquistarem a boa confiança de nós todos, sem fazerem pouco desse substantivo tão difícil. Danielle A. Giannini

O filósofo e o político

Seneca

Não é de pouco tempo que os políticos perderam a credibilidade. Muito se deve ao descompasso entre suas ações e suas palavras. A maioria é traída pelo que fala. São discursos e mais discursos, poucas vezes curtos, feitos de improviso ou pensados antecipadamente por assessores dedicados … aos próprios políticos ou aos seus cargos. O que se tem visto ultimamente é uma proliferação descabida de impropriedades que mancham o cenário político e atordoam a sociedade. Os dispositivos para se compor um discurso são muitos, e sempre surgem mais outros. O bom uso de tais dispositivos pode representar uma boa cartada do político, no entanto, quando se extrapola o bom senso, é fácil cair no ridículo. José Sarney, na tentativa de defender a si mesmo de acusações diversas “de inadequação” ao sistema, citou o filósofo Seneca. Sempre valoriza um discurso a citação de um filósofo, mas não foi bem assim. Leia dois momentos do discurso do político maranhense (eleito pelo Acre):

“…tendo a plena convicção de que sempre agi dentro do melhor interesse do Senado Federal, que jamais pratiquei qualquer ato que não se amparasse completamente no meu sentimento profundo da ética e da lei (…) Seneca dizia que as grandes injustiças só podem ser combatidas com três coisas: silêncio, paciência e o tempo.”

A enxurrada de palavras não diz absolutamente nada, mesmo com o suposto aval de Seneca, que nem de longe se referiu a políticos de comportamento duvidoso. Julgamentos políticos à parte, vamos ao que o senador disse.

Ter convicção de agir dentro do melhor interesse do Senado não significa agir pelo interesse do povo, aliás ninguém sabe quais são os reais interesses do Senado, nem nos melhores interesses nem os piores ( o Senado deveria ter piores interesses?).  Ele também disse não ter praticado  atos que não se amparassem pelo sentimento da ética e da lei. Outro problema aqui, pois atos políticos não deveriam ser amparados por sentimentos, e sim pelas necessidades concretas da nação. Também não me lembro de ter ouvido que ética e lei são sentimentos. Não deveriam ser, e o senador deveria saber disso. “Sentimento profundo” é algo bom ou ruim? Alguém poder ter um sentimento profundo de ódio ou de amor. Fica a dúvida. A seguir, as palavras de Seneca, sem qualquer coesão com o que estava sendo dito antes, assim jogadas mesmo, como uma pedra da testa da platéia, como quem diz: “agora não dá para refutar, as palavras são de Seneca”. Se é assim, então nem vamos comentar, afinal, quem está sofrendo injustiças somos nós brasileiros; que tenhamos então a esperança de que certos políticos permaneçam em silêncio, tenham a paciência de aprender a agir pelo interesse da coletividade e usem o tempo para moralizar sua própria conduta. Como se vê, as palavras podem ser perigosas quando usadas com descaso.