Não queria despertar

Acordou sem despertar

O corpo estava agarrado ao estrado

Sem poder mexer uma parte sequer de si

Cogitou estar doente

Estremeceu por dentro e por fora

Uma corrente gélida percorreu sua pele

Foi tomado de um embaralhamento mental

O homem não sabia mais respirar

O ar escapava-lhe

Concluiu que era vítima

Não saiu da cama naquele dia

Nem dos dias seguintes

Por mais que lhe tenha chegado socorro

Recusava-se a aceitar o lenitivo

Confortável que estava como sofredor

Perdeu preciosos dias de sua existência

Porque não aceitava esse existir enfermo

Parecia não despertar de um pesadelo

Agarrado aos pensamentos convenientes

Sem poder mexer no destino

Estremecia ao menor risco de disciplinar a mente

O homem não queria respirar

O ar lhe trazia obrigações

Concluiu que estava sendo injustiçado

Não saiu para a vida

Por mais que fosse urgente viver

Estava confortável em ser como era

Porém sua existência não o deixaria perder-se

E gritaria de dor enquanto não fosse notada

Até que ele despertasse do pesadelo da amargura

Para concluir que era o autor do próprio destino.

Danielle Arantes Giannini

Meu lugar

Meu lugar é dentro de mim
Não é o quarto de parede azul-esverdeada
Não é o mural de avisos na parede
Não é a janela com vista pra a construção

Meu lugar é nas profundezas
Não no profundo do ruído da cidade
Não no canto inútil da sala
Não no estrondo da chuva impetuosa

Meu lugar é fora dos livros
Não em cada página cheirando a guardado
Não nas linhas que pertencem a outrem 
Não na luminária insistente 

Meu lugar é onde só há ausências e
No entanto é um lugar cheio, 
Tão repleto de existências
Povoado pelos alaridos que se disputam em cada fotografia

Meu lugar é no silêncio da dor
Meu lugar é no hoje insistente
Meu lugar é na cadeira desconfortável
Meu lugar é nenhum lugar

Olhando em volta de mim tudo está cheio de dias,
Meses, séculos, eternidade
É na eternidade que eu habito,
A eternidade que há dentro de mim.

Danielle Arantes Giannini

Ela partiu

Ela é bela, ela é bela
Ela é o que ninguém mais é
É única, encantadora
A melhor
A mais importante
Incomparável.
Ela é bela, ela é bela
Ela é o todo, tudo compreende
É pilar, é base, é o topo do mundo
Insuperável.
Ela é bela, ela é bela
Vestida de cabelos alourados
Túnica azul feita de tecido-luz
Ela brilha, irradia
Ela apazigua 
Serena,
Compreende
Acalma
Ela é bela, ela é bela
Ela é esperança
Ela é reencontro
Ela é dia e noite
Sol e chuva
Brisa e lágrima
Toda sorriso
Ela é alma imortal
É o porvir
E eu aguardo.

Danielle Arantes Giannini
28/12/2020

mais um poeminha para quem ainda dói

ainda a dor

 

como a dor dilacera

a ferida não fecha

rompem-se os nervos

a mente voa para um tempo indesejado

passa o dia pesaroso

cai a noite solitária

cada pedaço de mim arde em vazios

ausências minhas

nada preenche que afague

só falsos suspiros

esses eu não quero

o meu desejo é o meu encontro

Onde?

 

Danielle Arantes Giannini

Poeminha para quem dói

Dor

 

Teve dores na alma

Para as quais não encontrava comprimidos

Deixou o corpo deitado

As dores não cessavam

Quanto mais esperava

Mais doía-lhe o ser

Por quanto tempo ficou ali não sabe

Era confortável a companhia da dor.

 

Danielle Arantes Giannini
(15/01/17)

Quando se perde um amor

Perdi o amor
Ganhei a poesia
Recuperei os versos que havia preterido
Em troca de um amor tranquilo
Passou o vento e tudo levou
A poesia, fiel companheira
Sem mágoas, sem máculas,
Sem me desprezar, sem me zombar,
Foi se achegando e instalou-se enfim
No lugar que dela sempre foi
Não fez cobrança
Não fez promessa
Pediu papel e caneta
Era hora de voltar ao trabalho.

(Danielle Arantes Giannini)

Sobre ilusões, leia novo post no Blog Dores & Ganhos
http://doreseganhos.wordpress.com

 

Para onde?

para-onde_imagem

 

Cansou de falar

Falou tanto, que as palavras estavam exaustas

Cansou de chorar

Exauriram-se as lágrimas

Cansou de pensar

A mente em colapso turvou-lhe a vista

Decidiu caminhar na mata

Ouvir a algazarra dos pássaros

Eles, sim, tinham o que dizer

Mas sua mente não entendia

Escutou as próprias pegadas

Não sabiam para onde estavam indo

Deixou-se levar

Avistou um tronco de árvore partido

Sentou-se

Demorou o quanto pôde, até ser expulso pela vigilância

Não podia permanece ali

Tinha que seguir.

Para onde?

 

Danielle Arantes Giannini
10/11/2016

 

Poesias que custam

Apesar de toda mágoa

A poesia estava engasgada

Tinha tristeza de sobra

No entanto a poesia não saía

O papel talvez estivesse branco demais

Intimidou a poesia

Era preciso apressar

Antes que voltasse a alegria.

 

Danielle Arantes Giannini

O céu na minha cidade está negro

ceu negro

 

Olhei para o céu e vi que estava desabando negrume sobre os passantes. Tratei de passar rápido. Tinha afazeres para o dia. Era meu segundo dia de disciplina, não podia falhar. Portanto parar e esperar o futuro do céu não estava nos meus planos. Pensei que minha vida devia continuar, assim como todas as vidas devem continuar mesmo quando o céu está pesado, pesaroso, pois os problemas e as soluções existem apesar do céu.

Então segui adiante.

Danielle A.Giannini

Poeminhas para aliviar a tensão: árvores

árvores

arvore_imagem

As árvores, imponentes
Crescem o quanto querem
E nos miram do alto

As árvores impõem sua presença
Dura
Movem-se ao vendo
E, no entanto, quedam-se sob o céu

Só o céu é mais alto que as árvores.

Danielle A. Giannini