Inconstância

Sua vida é conduzida por mim,
Decido quem você é hoje
E quem será amanhã
Você não me controla nem me cala
Sou indomável
Meu nome é inconstância
Sou eu quem faz sua rotina ser uma hoje
E outra amanhã
Movimento seus pensamentos
Transformo seus sentimentos
E o transformo em humano
Sou a mudança
Sou o nunca e o sempre
Sem controle nem previsão
Nada me intimida
Porque não sou fórmula fixa
Sou ação
Minha missão é transformar você
E mudar todas as coisas da vida
E todas as coisas do mundo
Estou aqui para cortar suas amarras
Quero arrombar o cadeado do apego
Para libertá-lo da dor
Não adianta lutar contra mim
Eu sou a vida
Vim para abalar suas convicções
Semear a dúvida
Deixar uma cisma em você
E depois me alegrarei com sua transformação
Você não se livrará de mim
Nem mesmo depois de cerrar os olhos
Porque também sou a impermanência
E onde você estiver,
Lá eu estarei.
Venha cá, segure minha mão,
Caminhe comigo
Vou lhe ensinar o que é liberdade
Estaremos juntos até na eternidade
Não se atrase chamando os doutores,
Sábios e entendidos
Eles também seguem as minhas leis
Porque você, os doutores, os sábios, os entendidos
E os ignorantes
São todos meus tutelados
Nada os distingue
Nem títulos,
Nem moedas,
Absolutamente nada
Sou a mesma para o rico e para o pobre
Estou no caminho do justo e do injusto
Mas hoje eu quero você
Vim me apresentar
Não lhe farei mal algum
Confie em mim
E encontrará o caminho que leva a você mesmo
Você nada pode se não for através de mim
Sou a força que rege a natureza
Faço surgirem estrelas, planetas
Sóis de todas as grandezas
Provoco chuvas e mexo na superfície do solo
Componho músicas com o vento
Moldo ondas perfeitas e imperfeitas
Acredita agora que você nada será sem mim?
Então aceite meu convite
Caminhe comigo nessa tarde de sol
Amanhã andaremos pela chuva
E depois lhe trago um pouco de brisa
Se quiser, pinto um arco-íris para você admirar
Só não me peça para ficar parado
Porque sou a inconstância
E vou levá-lo para onde eu for!

Danielle Arantes Giannini 
Texto publicado originalmente em https://vivenciaseganhos.wordpress.com em 8 de dezembro de 2018

Banco de personagens: Diana não era invisível

Diana tinha certeza de que não era querida. Olhavam-na torto, sem sorrisos. Passava o dia com a cabeça pregada no computador, para não ser hostilizada. Pensava que o problema eram as roupas que vestia, um tanto antiquadas, talvez estivesse no próprio corpo um tanto magricela. Diana nunca atentou para os colegas. Dia a dia, chegava de olhar baixo, evitando a desaprovação de todos. Não sabia que na salinha do café, que sempre fica no final do corredor, funcionários do andar comentavam a beleza tristonha de Diana. Um deles ameaçou dizer que era soberba a moça; outro a defendeu, alegando timidez; o chefe informou que era competente e por isso não a dispensava. A mulher da limpeza, que ouvia a tudo, saiu bufando que a Dona Diana era de um azedume que fazia até indigestão. Gilberto lembrou-se do dia em que tentou uma conversa com a moça porque a achava bem interessante, sem êxito. No fundo, ninguém conhecia Diana. Diana vivia com a cabeça enterrada no computador.

Danielle Arantes Giannini

 

Um copo de café com leite

cafe-com-leite_imagem

Estava travada na vida e queria ir além.

Como podia? Sem forças, sem máscaras, sem ninguém.

Nem pretexto tinha.

Parou, respirou,

olhou o rapaz que transportava botijões de gás na garupa da moto

pensou que sua vida não era tão arriscada

e decidiu tomar um copo de café com leite.

 

Danielle Arantes Giannini

A quem possa interessar, reflexão breve “Sobre grama, aceitação e clorofila”, no blog Dores & Ganhos.

Próxima pegada

Texto-presente de André Santana para Palavras sobre Palavras

imagem texto andre santana

Ele estava vindo nesta direção.
Chapéu na mão,
andar lento e sem nenhuma pressa.
Cá entre nós,
a vida é assim.
Constante e sem pressa…
Ao olhar para trás,
ficam somente as pegadas.
Em breve elas sumirão.
Seja na próxima poeira,
próxima chuva,
brisa
ou mesmo próxima pegada.

(André Santana – http://assandre.wix.com/andresantana)

 

 

 

Consolo

Na imensidão do mar encontro consolo, retiro força, adquiro paciência. Longe no mar, onde o horizonte traça uma linha divisória entre o que minha vista alcança e o que não se pode ver, entendo com mais vivacidade e clareza a grandeza das coisas de Deus. As águas em movimento eterno, disciplinadas pelas leis da natureza, me levam para o profundo contato com o que sou mas não percebo no cotidiano. É a sutileza dos mistérios que grita à minha frente querendo despertar. Envolvida por tal contemplação, ponho-me a escutar os mistérios, o insondável, o inaudível, o urgente. A imanente força da vida que não cessa quer se manifestar, porém nem todos estão atentos, entretidos com bebidas, com corpos, com prazeres gastos. É o som da rebentação que me extrai do superficialismo e avisa que o mar tem algo a me dizer.

E escuto, atenta, disponível, abraçada pelo divino, pensamento metafísico. Deixo levar o pensamento pelas idéias que não são minhas, vêm de presente dos seres que habitam o etéreo e conhecem o dstinos dos homens. Eu vislumbro o paraíso sem nem mesmo entender as dimensões da vida e acato ao apelo de servir. Faço um pacto e descubro que é meu compromisso de sempre, percebo também que é um pacto com a humanidade, sério, responsável, fiel. O mar me diz que para conseguir o
que desejo, preciso antes saber desejar. Ciente do que desejo, devo mobilizar forças que façam girar os fluídos de que os sonhos são feitos e depois esperar até que maturem as formas. Como a maré que sobe na hora de subir e desce na hora de descer; como a onda que corre o mar todo até encontrar a areia mole para quebrar; como os moluscos que não ganham a água sem antes abrir as conchas. Por que então me angustiar com a pressa das coisas se não sei quando é devido que elas se tornem fato? É o que o mar me questiona e não sei responder. Desconheço a resposta porque estou tomada por essa pressa inútil que mais serve para enfraquecer a fé. Com a ajuda prestimosa de um livro sobre a heroína da França, diante do mar, entendo o valor da coragem arregimentada pela fé nas coisas de Deus. Nada mais me resta a duvidar, nenhuma escolha a não ser manter-me coerente com a lei divina, nem mais uma sombra de descrença ou descrédito, nada a não ser empunhar a espada da vitória que transcende todas as eras, espada do bem, símbolo da bravura dos puros de coração e instrumento da providência. É esta espada que empunho de agora em diante, em busca do meu gênio céltico, porém mais integrada do que nunca à minha terra presente, ciente de que aqui posso plantar a semente da eternidade da vida, da pluralidade dos mundos e da ascensão pela luta. O mar escuta estes meus pensamentos e consente; sabe que entendi o seu recado e continua sua tarefa de despertar outras pessoas.

Danielle A.Giannini

(20 de julho de 2008, Ubatuba)

Banco de personagens: Juvêncio J. e a gravidade do seu pensar

Ou a gravidade do seu penar? Do seu pesar? Do quê? Esse homem pensa que só ele serve, só ele é justo, só ele sabe o que é certo, e todas as pessoas estão erradas; na verdade, ele acredita de todo mundo está a mais no mundo, posto que ele é o todo. Juvêncio J. resolveu não gostar mais das pessoas porque elas sempre atrapalham. É o motorista do carro da frente que não o deixa passar. É a atendente do supermercado que demora. É o governo que não faz nada direito e só cria dificuldade. É o motoboy que esbarra no seu carro. É uma porção disso e daquilo, que faz medo. Não consegue ver nada de bom em ninguém esse homem. Talvez ele se baste e não precise nunca de ninguém mesmo. Vamos ver.

Danielle a. Giannini