A razão

“É verdade que, enquanto apenas considerava os costumes dos outros homens, eu pouco encontrava com que me assegurar, observando entre eles quase tanta diversidade quanto havia notado antes entre as opiniões dos filósofos. De modo que o maior proveito que eu retirava era aprender, vendo várias coisas que, embora nos pareçam extravagantes e ridículas, não deixam de ser comumente aceitas e aprovadas por outros grandes povos, a não crer muito firmemente naquilo que me fora persuadido apenas pelo exemplo e o costume, e assim a livrar-me aos poucos de muitos erros que podem ofuscar nossa luz natural e nos tornar menos capazes de ouvir a razão. Mas, depois de dedicar alguns anos a estudar desse modo no livro do mundo e a procurar adquirir alguma experiência, tomei um dia a resolução de estudar também em mim mesmo, e de empregar todas as forças do meu espírito em escolher os caminhos que devia seguir.”

R. Descartes, Discurso do Método, 1637