Banco de personagens: Wilson seguiu a pista

Não estava nada fácil encontrar sua origem. Sabia que tinha um pai, e seu pai era um número. O número que o banco de sêmen forneceu não tinha olhos, cabelos ou nariz com que pudesse comparar aos seus, era uma sequência de algarismos, ou dígitos, seja como for. Wilson estava decidido. Encontraria o pai. Pensou em todas as possibilidades, nenhuma parecia razoável. Seria um homem simpático? Culto? Gostava de futebol, de corrida de cavalos? Vegetariano? Áries, touro, gêmeos? Divagava sobre essas particularidades prováveis e incertas. Como o que tinha era apenas um número, Wilson seguiu a pista. Em pouco tempo teria a informação que tanto desejava.

Danielle A. Giannini

Croniquinhas: 7…o preço das coisas

Na vitrine a plaquinha diminuta anunciava os preços de tantos produtos, todos identificados por números, que era definitivamente impossível descobrir quanto custava a blusinha vestida no manequim da direita. Decidida a obter a útil informação, a consumidora entrou na loja e foi recebida por uma vendedora toda emperiquitada com os produtos da marca. Solícita, porém sem esboçar um sorriso, a funcionária comunicou-lhe que todos os preços estavam afixados na vitrine. Perguntou ainda maquinalmente se podia ajudar em mais alguma coisa.

Palavras sobre o cotidiano: leis que emburrecem

Estava eu pensando  se é possível alguém aceitar uma lei que impede as escolas de cobrarem dos alunos o uso correto da língua portuguesa. Bem sei que existem milhares e milhares de leis no país, uma mais descabida do que a outra, muitas das quais cidadão algum tem conhecimento, porém isso não alivia em nada o meu assombro. Sim, pois alguém pensou, arquitetou um projeto de lei e levou o desvario adiante,  e o dito cujo precisa ser votado. Pensei que elegêssemos parlamentares para zelarem pelo bem da população e do país, não para perderem tempo e dinheiro com  besteiras e atentarem contra o bom senso. Alegam que exigir o bom português é discriminação. Ora, vejam só! Discriminação é não oferecer educação decente para todos os brasileiros. Criar uma lei para defender o uso errado da língua é prova de que o Brasil precisa comer muito arroz e feijão se quiser caminhar pra frente.

Banco de personagens: Eduardo tinha tanto para dizer

Não conseguia, não dava mesmo, não tinha jeito e não encontrava a menor palavra que fosse, e tinha tanto para dizer. Eduardo estava sofrendo sinceramente com aquele tormento, se bem que era um sofrimento recolhido, desses que ninguém fica sabendo. Não sei se isso ameniza ou agrava o sofrer. Era descabido o caso de Eduardo porque ele era teimoso, só servia dizer o que ele precisava se encontrasse os vocábulos perfeitos. Nenhum servia. Estava virando uma constante, todo dia na mesma hora, quando a moça da bolsa cor de rosa passava, pronto, punha-se a suar pelas mãos o coitado.

Danielle A. Giannini