Lembrança do nada

No desejo teimoso meu de ser uma

A saudade não cessa

De outros tempos

Tempos que jamais estiveram na minha lembrança

Será o amor alheio a mim?

As horas passam ocupadas

Não vejo o quanto se foi

De risos de lágrimas de suspiros

Outro dia chega com as flores da repetida estação

Fresco desconhecido colorido,

No entanto, o mesmo

Na ânsia de ir e voltar

Perco-me nas linhas e letras sem fim

Vou com minha saudade, mais nada,

Ver quem está naquele lugar 

Naquele tempo

Que não conheço e vislumbro no tom do céu

Róseo-azulado me encanta

Enquanto escuto o que não é

Quem nunca veio

Os que lutaram e hoje são histórias

Nem venta na minha mente

Porque intactas ficam as lembranças

De quê, meu Deus?!

Danielle Arantes Giannini, em um ano qualquer que se foi

Desamor em tarde de céu azul

Deve ser gostoso sentir-se amada por um homem gentil, cuidadoso e presente em cada instante da sua vida. Pelo menos era o que Celina andava pensando. Ela até acreditava que teve um amor assim no passado, mas esvaiu-se tão rápido, que talvez não fosse amor, e sim algum tipo de necessidade inconsciente. Disso resultou o desamor, o não ser amada, que doeu por bastante tempo em Celina, machucou, apagou um bocado das cores de tudo. A moça, que tocava piano lindamente, demorou para voltar a ver as cores e hoje as vê completamente por seus próprios olhos, mesmo sem ter um amor. Ser amada é gostoso, repetia mentalmente, dá uma importância para a alma. Contentava-se com a lembrança de ter sido amada, embora não soubesse se foi mesmo, bastava-lhe a sensação. Diferente de hoje. Celina tem um homem que não consegue amar, não sabe lhe fazer amada, chega a ser indiferente, não a vê como mulher amada, não percebe o corte novo do cabelo, não nota a roupa íntima, não discerne o tom de voz e o olhar quando ela está feliz ou triste. Descuidado,  não manda mensagens durante o dia, não a convida para um passeio, não se arruma com apuro para encontrá-la. Por que um homem com tantos nãos? Isso a deixava carente de alguém que sentisse ansiedade de vê-la e alegria de chegar, entusiasmo de ficar e atração para amá-la. Não queria um homem frio, desses sem emoção, sem expectativas. Amor sem nada esperar é o quê? Celina dizia que é não amar. Não pedir uma foto para recordar, não escrever um bilhete para marcar presença, não ter vontade de lhe contar algo incrível, de levá-la a um lugar que precisa muito mostrar porque ela vai adorar, não telefonar no meio do dia sem qualquer motivo; tudo isso é não amor. Não aparecer de surpresa quando sabe que ela não está bem, só para ficar do lado ou trazer um bombom, um macinho de flor do supermercado que seja, alegando estar respeitando o momento dela, não é respeito, é esquiva, não querer assumir a responsabilidade pelo amor, portanto não é amor. Por tudo isso, a jovem não se sentia amada, e tem hora que fazia falta um amor de verdade, talvez por isso ela ainda tivesse esse não-homem, não-amante, não-amor. Ilusão o nome? Esperança? Carência? Necessidade? Não sabia, não sabia dar nome ainda para esse não-amor que se arrastava sem tempero, sem calor, sem magia. Eu não ousava dar minha opinião porque achava tudo um descalabro e não estava ali para envenenar o coração da minha amiga tão querida. Celina segue querendo um dia voltar a se sentir amada, admirada, desejada, sabendo que um homem pensa nela e sente saudade, que conta as horas e os minutos para estar junto e veste a melhor roupa para encontrá-la, que se lembra dela quando escuta uma música ou vê o céu iluminado no meio da tarde, que mande beijo para as estrelas levarem até ela nos dias de distância, que abra um vinho para saborear em meio a bobagens de casais. Celina não sabe se um dia terá um amor desse, simples e gostoso, ainda assim insiste em desejar que seu homem desperte para ela. Só não abre mão é de continuar vendo as cores vivas com sua própria alma, mesmo estando só. Aquela tarde estava bonita, com céu azul e temperatura agradável, Celina estava na janela da sala, pegada à minha janela, de onde eu a escutava dizer essas coisas com uma calma que me fazia sentir vergonha do asco que me vinha ao pensar naquele não-sujeito que não se jogava nos braços e na vida da minha amiga. No fim do dia, fiz bolinhos de baunilha que ela adora e fui tomar um champanhe com a vizinha Celina.

Danielle Arantes Giannini