O exercício da mente

 Experimente praticar exercícios físicos regularmente. Será ótimo, dia a dia seus limites vão se ampliando, aumenta a agilidade, vem a rapidez, o corpo fica mais flexível, músculos rijos, tonificados, que satisfação! Cada vez que você exercita o corpo, fica  melhor. Agora experimente parar por um longo tempo, talvez um, dois anos, mais até. Depois volte a se exercitar. O que aconteceu com seu corpo? Parece que enferrujou? Dói tudo? É assim mesmo, menos treino, pior. Se funciona desse jeito com o corpo, imagine com a mente! É tudo a mesma coisa. Experimente ler regularmente. Será ótimo, página  a página seu repertório vai aumentando, o raciocínio fica rápido e ágil, ampliam-se os horizontes, até o olhar muda. Agora experimente parar de ler. Aposto que vai demorar para você ter coragem e iniciativa de abrir um livro de novo. Com a criatividade, o exercício é tudo. Sem praticar não se cria, ou não se cria algo realmente bom. É com a prática constante que vêm as ideias para aquele quadro, aquele texto, aquela escultura, enfim, aquela criação. Cada vez mais ampliam-se as possibilidades,  novas técnicas e recursos são incorporados, mais criações são realizadas porque uma ideia puxa a outra que puxa um resultado melhor e outro e outro melhor. Vem a superação. Superação do corpo, da mente, da criatividade. Experimente parar. A criatividade fica fraquinha, a mente se enche de preguiça.  Portanto a receita é exercitar.  Experimente. Com persistência! Ou sua criatividade vai ficar fraquinha, e a mente cheia de preguiça.

Danielle A. Giannini

Banco de personagens: Agenor parou

Nunca dava atenção a ninguém nem a nada que não fosse um de seus inúmeros compromissos. Precisava ganhar a vida e isso era o bastante, talvez fosse muito para um homem atribulado. Todo dia era a mesma coisa, chateação no trânsito, brigas e brigas com o funcionário Muniz, que demorava mais de meia hora para almoçar, e atrasos, nossa, quantos atrasos. Não dava tempo de cumprir toda a agenda e isso perturbava demais esse homem de pouco mais de trinta anos, sem família constituída e sem horas de lazer. Outro dia no congestionamento, quase enlouqueceu de raiva com o celular que não queria funcionar, e precisava falar com uma pessoa urgentemente. É, não tinha jeito, o veículo nem saía do lugar, e Agenor decidiu abrir a janela e olhar para o lado. Viu a cidade pela primeira vez. Viu o parque à sua direita, um parque enorme, cheio de gente naquele fim de tarde. Quis estar lá. O cérebro de Agenor quase entrou em colapso.

Danielle A. Giannini

Banco de personages: Encontro

 

Aversão mútua. Foi o que sentiram Américo e Domingos após um tempo sem se encontrarem. Não muito, uma semana só, que bastou para que os acontecimentos tomassem o lugar de uma amizade de anos. Américo não quis admitir, mas sentiu inveja, forte, intensa, das que tiram o pensamento do rumo. O sempre afoito Domingos estava calmo, tranquilo como nunca. Encontraram-se para uma cerveja no bar de sempre, mas o gosto do que beberam estava amargo demais.

 

Danielle A. Giannini

O desafio da página em branco

 Texto publicado em 02 de dezembro no blog Dragonfly, criação e arte

Por onde começar quando tudo o que se vê à frente é o mais completo, alvo e por vezes desesperador branco? A tela branca, as paredes brancas do museu, a página em branco, tudo branco. Seria mais conveniente perguntar então: começar ou não começar?

Nem sempre o começo é difícil, situações estas em que o branco é um convite, um deleite, uma sensação de liberdade ímpar. Outras vezes o branco intimida e aí os bloqueios ficam à vontade, intrusos da criação.

Lembro-me de ter me invocado com uma página em branco algumas vezes, não muitas porque vou logo preenchendo todo branco com letras e mais letras, entretanto sei que devo saber quando o branco não quer nada sobre ele, nem palavras, nem quadros, nem notas musicais, não quer e ponto.  Começar ou não começar?

Nunca concordei com a desistência da criação diante do nada do início. Dá para adiar, sem previsão, não desistir. Complica quando não se pode escolher, seja porque tem data para abrir a exposição ou prazo para a entrega das ilustrações, do texto pronto e outros compromissos mais. Quando é assim, se a parede não quer um quadro, o curador vai ter que encontrar uma saída, os desenhos vão brotar no papel e as palavras precisam vir à luz, urgente, para ontem. Pronto, já está a criação nas mãos do tempo, sem o subterfúgio do adiamento, da falta de inspiração, e inspiração não é coisa que se compre em cápsulas na farmácia.

Então está feito, é o tempo que pode dominar o branco, ainda mais o tempo curto. Tem gente que se inibe, mas se a criação tem que sair, tem outro jeito?

 

Danielle A. Giannini

Palavras para pensar

“Todos os teus pensamentos atuam nas mentes que te rodeiam.
Todas as tuas palavras gerarão impulsos nos que te ouvem.
Todas as tuas frases escritas gerarão imagens nos que te leem.
Todos os teus atos são modelos vivos, influenciando os que te cercam.”

(Emmanuel, Fonte Viva)

A palavra “muito”

Muito, muito mesmo. Muito de tudo. É esta a síntese do meu país… e também da minha cidade. Muito grande, muito barulhento, muito desigual, muito, muito. Já parou para observar como tudo é exagerado por aqui? Tem muita gente, tem muito carro, muita moto. Tem muita loja de tudo, tem muita poluição, muito desmatamento. Uma quantidade muito enorme de celulares, muitas reclamações nos órgãos de defesa dos muitos consumidores. E a lista dos muito não para. Muito meliante, muito político corrupto, muito empresário desonesto, muita gente querendo levar vantagem, muito crime e muita pouca vontade de resolver os muitos problemas na saúde, na segurança pública, na educação, O que muito me admira é que o nosso povo é muito complacente. Tem muita coisa boa também, muitos talentos (embora muitos desperdiçados), muitas belezas naturais (já foi muito mais), muitas frutas saborosas e muito mar. Poderia ficar aqui fazendo uma lista muito grande, mas seria muito cansativo ler. Então paro por aqui com os muitos “muito” desse país superlativo, desejosa de que aqui haja pessoas muito gentis, honestas, alegres, instruídas e justas. Assim fica muito melhor!