Vi com uma admiração sem tamanho como este pintor cuidava de seu jardim. Um delicado e branco jardim de margaridas. Não quis incomodar o rapaz, por isso não conversei com ele; apenas um clique rápido, com o telefone mesmo, e retirei-me para admirar a cena a certa distância. Não gosto de interromper quem quer que seja em sua criação, em sua arte, em sua sensibilidade. Para ser honesta, tampouco gosto de ser incomodada quando estou criando, seja o que for. As pessoas à minha volta já se acostumaram quando eu digo: “espere, estou criando”. Pode parecer pedante, mas não, é apenas minha franqueza, querendo dizer “ei, estou pensando em algo e se eu parar agora, vai tudo por água baixo”. Deve ser assim com todo mundo que cria, embora haja aqueles muito gentis, que não sabem dizer “afastem-se, por favor”, e o que devem sofrer com isso. Também tem gente que gosta de ser visto enquanto pinta um quadro ou faz um desenho; cada um é cada um. O que eu quero mesmo comentar hoje é a leveza da criação; ela que mobiliza todo o corpo. Veja, o rapaz da foto, que harmonia, como seu corpo fala que ali alguém está inteiramente mergulhado na sua arte. Escrever é assim, requer postura de mãos, de coluna, postura de mente. Não vejo como escrever desleixado, de cabeça para baixo e pés para cima do sofá, pelo menos eu não consigo. É questão de organizar corpo, mente e sensibilidade, predispor-se à inspiração, para acontecer o processo mágico e poderoso da criação, como se a cada texto fôssemos pintar um jardim de margaridas. Se quer escrever, vamos às nossas margaridas!
Por: Danielle Arantes Giannini